O projeto EU-LAC-MUSEUMS actua com pequenos museus locais e as suas comunidades. Frequentemente, os museus com os quais trabalhamos identificam-se como "museus comunitários" ou "eco-museus". A nossa investigação bi-regional realça semelhanças e diferenças no modo como os nossos museus funcionam, especialmente no que respeita à governança de museus. Uma das questões centrais de pesquisa da nossa investigção bi-regional é analisar a forma como estes tipos de museu se encontram em concordância com a definição de museu do Conselho Internacional de Museus (ICOM).
As coleções de museu refletem o património cultural e natural das comunidades das quais provêm. Por esse motivo, as coleções apresentam uma natureza que vai além da simples posse, a qual poderá incluir fortes afinidades com a identidade nacional, regional, local, étnica, religiosa ou política. Consequentemente, é importante que a política museal se adapte a esta situação.
De acordo com os Estatutos do ICOM, adotados pela 22ª Assembleia Geral em Viena, Áustria, em 24 de agosto de 2007:
“O museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite."
Esta definição é a referência utilizada pela comunidade internacional.
Definindo o Museu para o Século 21 (Defining the Museum for the 21st Century)
No dia 25 de novembro de 2017, a Universidade de St Andrews, Escócia, realizou uma conferência que reuniu investigadores da Europa, da América Latina e das Caraíbas, e de outros países, para refletir sobre essas questões e informar as suas conclusões ao ICOM.
Resumo da conferência:
Esta iteração em inglês do debate global do ICOFOM “Definindo o Museu para o Século 21” teve o apoio do projeto EU-LAC-MUSEUMS e do Instituto de Museus, Galerias e Coleções da Escola de História da Arte da Universidade de St Andrews.
A conferência de um dia consistiu numa série de artigos, uma mesa redonda e uma sessão interativa conduzida por Lauren Bonilla-Merchev (Presidente do ICOM Costa Rica, Membro do Comité Permanente do ICOM para a Definição do Museu; Membro do Comité Diretivo, Projeto EU-LAC-MUSEUMS). Os oradores são oriundos do Reino Unido, Espanha, França, Itália, Irão, Israel, Brasil, Chile, Costa Rica e os artigos abordavam museus de muitas partes do mundo, incluindo Brasil, África Oriental e Chile.
A conferência foi iniciada pela Professora Sally Mapstone (Diretora e Vice-Reitora da Universidade de St Andrews). Os principais oradores foram: Professora Sally Mapstone (Diretora e Vice-Reitora da Universidade de St Andrews)
Francois Mairesse (Professor of Museology, La Sorbonne Nouvelle, Paris; President of ICOFOM)
Bruno Soares (Professor of Museology, UNIRO, Brazil; Vice-President of ICOFOM)
Alberto Garlandini (Vice-President, ICOM; President, ICOM Italy)
Devido ao facto desta conferência fazer parte de um conjunto de eventos que fortaleceram as relações entre os museus EU-LAC, houve uma participação particularmente grande de oradores da Europa e da América Latina. Esta justaposição destacou diferenças e tensões entre o que os oradores consideravam ser os museus e a quem se destinavam. Por um lado, uma definição hegemónica de museu perpetua a exportação de um conceito europeu para o resto do mundo. Por outro lado, ter a definição incorporada em leis auxilia as administrações internacionais e nacionais (simultaneamente, torna mais difícil incorporar outras ideias). Todas as intervenções focam especificamente “Museus Comunitários” (no México e em África) - um tema particularmente pertinente para o projeto EU-LAC-MUSEUS.
A conferência foi seguida por uma cerimónia de entrega de Prémios Juventude ressaltando a parceria entre a MGCI, a University of St Andrews e o Skye Eco-museum no Intercâmbio de Jovens EU-LAC, liderada por Jamie Brown. Uma contribuição voluntária da banda de gaitas de fole de St Andrews e uma dança de Ceildh encerraram os eventos do dia.
Os pontos emergentes dos artigos, discussões e workshops incluiram:
1. A conferência começou com um resumo da história e antecedentes da definição e suas iterações, mas destacou a necessidade de nova reflexão (se não mesmo uma nova versão) devido ao surgimento de novos tipos de museus.
2. O fato de que a definição atual do ICOM está incorporada em várias leis e convenções nacionais e internacionais significa que mudanças radicais exigiriam mudanças na legislação e nos protocolos.
3. Novos modelos de museus considerados durante o dia incluíram património imaterial, museus comunitários, a ideia de museu de território, museus de favela, museus pop-up e museus temporários (por exemplo, um Museu das Remoções no Rio de Janeiro foi criado numa área onde as casas foram removidas para as Olimpíadas).
4. A discussão da mesa redonda contrastou o uso da definição da Associação de Museus do Reino Unido que está embutida no processo de acreditação (necessário para o reconhecimento e responsabilidade de financiamentos, subsídios, etc.) e pequenos museus independentes baseados na comunidade, organizações muitas vezes identificando-se como museus mas não profissionalizados. O efeito de "mundo real" de ter uma definição (ICOM ou MA, etc) é um museu profissionalizado, que pode marginalizar outros tipos de museu que não se enquadram na definição. Essa também foi uma questão destacada numa comunicação sobre alguns museus da África Oriental que muitas vezes são criados por um indivíduo comprometido com a preservação do património local, uma entidade que não se encaixa facilmente dentro dos modelos existentes.
5. Houve uma discussão sobre os princípios que deveriam orientar os museus e alguns dos seus atributos ou valores, tais como ‘veracidade’, ‘autenticidade’, ‘responsabilidade’, ‘independência’.
6. Frases na identificação atual que deram origem a comentários ou dúvidas durante os trabalhos
1. Um museu é uma instituição - burocrática, por vezes uma entidade legal
2. sem fins lucrativos - muitos museus dependem de atividades comerciais para sobreviver
3. permanente - questão sobre a sustentabilidade, por exemplo, se o estado não tem ou não distribui financiamento de maneira uniforme, alguns museus tornam-se insustentáveis sem financiamento
4. a serviço da sociedade – é consensual que todos os museus têm um papel social, mas que sociedade - quem chefia? Quem faz perguntas, em primeiro lugar?
7. Uma atividade com o público com anotações e perguntas sobre o vocabulário na definição resultou na seguinte resposta, por escrito:
“O museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins educativos, de estudo e deleite”
Palavras para manter a definição
- Público, aberto ao público, benefício público
- Educação
- Estudo
- Desenvolvimento
- Património material, imaterial
- Investiga e comunica
- Comunica e expõe itens materiais e imateriais
- Património / deleite / comunicação
Serviço à sociedade e ao seu desenvolvimento, Humanidade
Palavras / frases que poderiam ser removidas:
- Sem fins lucrativos
- Sociedade
Desenvolvimento
Deleite O conceito de... e deleite (entretenimento?)
Palavras, frases e conceitos que deveriam ser incluídos:
1. Substituir permanente por um termo mais conceptual
2. Facilitar o diálogo e debate
Incentivar/ estimular o debate
- Acesso
- Inspiração
- Envolvimento
- Interpretação
- Inclusão
- Definir explicitamente diversidade – de género, LGBT, etc. – integrante de inclusão
- Participação, participação efectiva
- Trabalho em rede
- Salvaguarda
- Reflexão (positiva ou negativa?)
- Empoderamento, inspiração, reflexão, coleções, bem-estar, participação, interpretação, envolvimento, descolonização, inclusão, promover, trabalho em rede
Indivíduos em substituição de sociedade
- A definição de um museu profissionalizado
- Inclusão, bem-estar
- Aproveitamento das coleções e comunicação do museu para gerar criatividade e inovação.
- Evitar, por favor, a “autenticidade” que não funciona com o património imaterial!
As definições criam expectativas - devem ter ou indicar LIMITES para aquilo que os museus podem alcançar?
- Museus = Pessoas
- “deleite” (bénéficier em francês) “Acesso + deleite - direito humano de participar na vida cultural
- Questionar a frase “ao serviço da sociedade” - por vezes é necessário desafiar e questionar a sociedade.
- E quanto a respostas às principais questões ambientais?... papéis nas mudanças climáticas? Biodiversidade?
- Deve repensar a parte de sem fins lucrativos, pois os museus encerram no Reino Unido por inexistência de financiamento disponível
- Ao serviço da sociedade - com as suas diferentes comunidades
- Sustentabilidade
- Meio Ambiente
- Onde estão a natureza e o património natural?
- Menos é mais – mais curta a definição, mais aberta e inclusiva
- Função: "salvaguardar" pode ser preferível a "preservar" - um termo mais aberto
8. A sessão interativa do Comité Permanente de Definição do ICOM ocorreu em grupos de ca. 5-6 pessoas por mesa, apoiados por alunos voluntários do curso de Estudos de Museus e Galerias. As entrevistas contribuirão para a investigação e análise do Comité Permanente. Entre os participantes encontravam-se oradores da conferência, Alissandra Cummins (Barbados, ex-presidente do ICOM), Janet Blake (Irão e Escócia, especialista em Património Cultural Imaterial) e funcionários e antigos alunos de St Andrews, entre outros. As questões colocadas foram as seguintes:
- Na sua opinião, quais são as contribuições mais relevantes e importantes que os museus podem apresentar à sociedade na próxima década?
- Na sua opinião, quais são as tendências mais fortes e os desafios mais sérios que o seu país irá enfrentar na próxima década?
- Na sua opinião, quais são as tendências mais fortes e os desafios mais sérios enfrentados pelos museus no seu país?
- De que modo necessitam os museus de mudar e adaptar nossos princípios, valores e métodos de trabalho durante a próxima década para enfrentar esses desafios e potenciar as nossas contribuições?
As respostas abrangeram uma gama variada de questões críticas que os museus irão enfrentar nas próximas décadas, sendo as mais importantes a crise económica, as desigualdades e inseguranças globais, a migração e as mudanças climáticas, exigindo prioridades de preservação e conservação.